A cirurgia bariátrica vem sendo apresentada, em algumas ocasiões, como a “solução ideal” para casos de obesidade grau III. É importante observar que existem restrições até a completa recuperação do paciente. O Dr. Amélio F de Godoy Mattos – Chefe do Serviço de Nutrologia e Metabologia do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE), ex-presidente da SBEM Nacional – esclarece algumas dúvidas sobre a cirurgia.
Existem variações das formas de Cirurgia Bariátrica? Quais são?
Dr. Amélio F de Godoy Mattos – As cirurgias podem ser divididas em dois tipos: o primeiro, onde há uma redução do tamanho do estômago, estabelece restrições. Existem três variações neste tipo de cirurgia bariátrica. Elas são denominadas: 1) banda vertical ajustável; 2) gastroplastia vertical; 3) gastroplastia vertical com by-pass em y de Roux. Esta última, chamada Capella ou Fobi-Capella, é a mais utilizada e foi desenvolvida por cirurgiões. Além da restrição por diminuição do volume do estômago, ocorre uma pequena disabsorção dos alimentos, porque eles deixam de passar pela primeira parte do intestino delgado.
O segundo tipo de Cirurgia Bariátrica é a disabsortiva (ou Derivação bilio-pancreática), chamada de cirurgia de Scopinaro. Neste caso, o paciente tem mais liberdade de comer maior quantidade de alimentos, já que não há grande diminuição do estômago que fica com 2/3 do seu tamanho. O que funciona aqui é o grande desvio do alimento, que vai para o intestino grosso.
Em que casos de obesidade a cirurgia é recomendada? Quais as contra indicações?
Dr. Amélio F de Godoy Mattos – A recomendação é para pacientes com índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 40, ou igual ou maior que 35, caso ele tenha comorbidades associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão, dislipidemias. A cirurgia também é indicada em pacientes com idade entre 18 e 65 anos e história de tratamentos clínicos, por pelo menos 1 ano, sem sucesso.
Em todos os casos existem duas perguntas a serem respondidas: 1) o paciente está dentro dos critérios de indicação? 2) há algum critério de contra-indicação, tais como doenças graves como cirrose hepática, doenças renais, psiquiátricas, vícios (droga, alcoolismo), disfunções hormonais, etc?
Em todos os casos o paciente deverá, obrigatoriamente, ter pleno conhecimento das características, necessidades, riscos e limitações de cada cirurgia. Ele deverá participar de reuniões com a equipe multiprofissional e com pacientes já operados para poder ter certeza da sua decisão.
Que profissionais estão envolvidos na cirurgia?
Dr. Amélio F de Godoy Mattos – A equipe é composta por cirurgiões, endocrinologista, nutricionista, psiquiatra ou psicólogo (no nosso caso preferimos ter os dois)
É necessário o acompanhamento psicológico?
Dr. Amélio F de Godoy Mattos – O acompanhamento não é obrigatório. Somente para aqueles em que o endocrinologista ou cirurgião julgue necessário. Todos, sem exceção, têm de passar por entrevista prévia com o psicólogo ou psiquiatra.
Quais os cuidados a serem tomados antes e depois da operação?
Dr. Amélio F de Godoy Mattos – Depende de cada caso, mas há uma regra geral: avaliação clínico-laboratorial com exames de sangue, radiografia de tórax, ultra-sonografia e ou tomografia do abdômen, avaliação cardiológica, endoscopia digestiva e pesquisa de H. Pylori e avaliação de função respiratória que será quão mais aprofundada quanto mais obeso ou complicado seja o caso. Caso o paciente tenha alguma doença que necessite tratamento e controle prévio a cirurgia será adiada até que se obtenha a melhor condição clínica.
Quais as reações do organismo após a operação?
Dr. Amélio F de Godoy Mattos – O paciente já sai do hospital, em média, com menos dois quilos. Nos primeiros meses, a redução no peso chega ser de sete a oito quilos. Os pacientes com quadro de diabetes melhoram imediatamente, chegando a reduzir ou interromper o uso de insulina (diabetes tipo 2). A complicação mais difícil de ser tratada é a pressão arterial. Ela demora mais a estabilizar e o paciente não interrompe o uso de medicamentos.
Os pacientes operados deverão continuar a fazer dieta após a operação?
Dr. Amélio F de Godoy Mattos – A expressão correta não é “fazer dieta”. Os pacientes necessitarão uma orientação nutricional para evoluírem de uma alimentação líquida para pastosa e, depois, para sólida. Há a necessidade de suplementar a dieta com compostos ricos em proteínas nos primeiros dias ou meses, cuidadosa orientação para os alimentos que podem causar “impactação” e orientação permanente para uma alimentação com os vários micronutrientes e macronutrientes. Isto varia de paciente para paciente. Em alguns posso necessitar suplementar mais cálcio, em outro ferro e vitamina B, etc.
Após a cirurgia o paciente continuará usando algum medicamento?
Dr. Amélio F de Godoy Mattos – Sim. O maior problema destas cirurgias a longo prazo é a desnutrição. Entenda-se aqui que um déficit de vitamina B12, embora não haja déficit de outras vitaminas ou de algum macronutriente. Casos de desnutrição são comuns. Em pacientes com desnutrição grave é necessária a internação. É obrigatório a suplementação com vitaminas e, frequentemente, temos que repor mais a B12. O ferro também é necessário com frequência.