Balança também é adversária

Por fatores diversos, atletas profissionais também travam batalha diária contra o excesso de peso

Eles são submetidos a cargas exaustivas de exercícios físicos todos os dias, recebem alimentação balanceada e têm apoio dos melhores profissionais das áreas de fisiologia e preparação física. Mas nem por isso estão livres de problemas com a balança. Alguns atletas profissionais também lutam diariamente contra os indesejáveis quilinhos extras.

Nem sempre o excesso de peso está ligado a um mau comportamento do atleta longe dos olhares da comissão
técnica. Fatores genéticos e hereditários contam bastante nesta hora, apesar de a questão ainda dividir a opinião de especialistas.

Um dos exemplos mais conhecidos é do atacante Walter, 27, que passou pelo Cruzeiro e hoje está no Atlético-GO. O jogador já fez vários trabalhos específicos para perder peso, mas nunca conseguiu se livrar de fato do problema.

Thalles, 22, atacante do Vasco, é outro que sofre com a situação. Precisou passar três semanas e meia em regime de internato em um hotel, monitorado 24 horas pela equipe do clube, para chegar ao porcentual ideal.

Líbero do Praia Clube, Suelen, 29, foi além. A jogadora de vôlei submeteu-se a uma cirurgia de redução de estômago para controlar o excesso de peso, que sempre a incomodou dentro e fora das quadras.

“Existem fatores genéticos que contribuem, mas também o histórico do indivíduo conta bastante. Se o atleta tem histórico de obesidade na infância, vai carregar características que favorecem o ganho de peso”, explica a mestre em educação física e professora Débora Romualdo Lacerda.
A médica endocrinologista Ana Clara Réche aponta outros fatores. “Algumas pessoas têm tendência maior ao acúmulo de peso por determinação genética. Fora isso, há uma série de alterações hormonais, que não indicam doença, mas deixam a pessoa com certa limitação metabólica”, diz ela.

Mas não é só isso. O acumulo de peso em atletas profissionais ou em pessoas comuns pode estar relacionado ainda a muitos outros fatores. “Tem também fatores externos, como o estresse mesmo. As pessoas e os atletas vivem num mundo muito sobrecarregado, que gera um estresse crônico que, querendo ou não, interfere nas vias metabólicas que favorecem a perda de peso. Tem também a falta de um sono adequado. São vários fatores, alguns mais técnicos”, completa a médica.

Com 28 anos de atuação na área esportiva, a nutricionista e mestre em bioquímica e imunologia Carmen Zita Pinto Coelho acredita que o excesso de peso de alguns atletas está muito mais relacionado aos hábitos alimentares de cada um.

“O metabolismo não tem uma diferença muito significativa, que seja importante no sentido de que o de uma pessoa é alto e o de outra é baixo. Não é bem assim que funciona. O metabolismo fica realmente mais baixo quando a pessoa é sedentária, que não é o caso dos atletas, ou quando há uma retirada de carboidratos maior do que deveria”, explica.

Uma vez obeso…

Nutricionista e doutora em saúde pública pela UFMG, Janaina Lavalli Goston dá uma explicação bem clara do por quê de algumas pessoas adultas terem tanta dificuldade com os ponteiros da balança. “A obesidade se desenvolve com o aumento do tamanho da célula adiposa e do número delas. Antes, achava-se que o organismo só produzia novas células adiposas em determinadas fases da vida. Hoje, sabe-se que isso não é verdade”, explica Janaina. “Quando há redução de peso, não há diminuição do número de adipócitos. Eles apenas diminuem seu diâmetro, mantendo-se aptos a retornar ao diâmetro anterior. Ou seja, uma vez obeso, o indivíduo sempre será obeso em potencial. A pessoa nunca perde as células de gordura que acumulou ao engordar”, completa ela.

Ganho de peso é bastante comum em ex-atletas

Quem também sofre com a balança são os ex-atletas. Acostumados a altas cargas diárias de exercícios físicos, quando eles penduram as chuteiras e diminuem drasticamente a prática de exercícios físicos, os efeitos são nefastos.

Aliados a isso, vem uma alimentação nada regrada, bem diferente da que estavam acostumados quando ainda atuavam. Nomes como os do ex-atacante Ronaldo, revelado pelo Cruzeiro, do ex-lateral Branco, do Flamengo e da seleção brasileira, além do craque argentino Maradona, são exemplos claros desta situação.

“O gasto energético diário de um atleta profissional – isso não em dia de jogo – gira em torno de 3.000 a 3.500 mil calorias. Quando ele para, ele reduz muito esse gasto. Se o ex-atleta não fizer uma outra atividade para tentar manter o gasto energético a que o organismo está acostumado, o ganho de peso vai acontecer”, explica a nutricionista Débora Romualdo Lacerda.

“A tendência é que ele continue com uma ingestão alta de calorias. Quando ele reduz o gasto energético e continua ingerindo a mesma quantidade de calorias, vai favorecer muito o ganho de peso”, completa Débora.

Mas, na maioria dos casos, cansados da rotina e das exigências da carreira, além de problemas com lesões, alguns ex-jogadores abandonam completamente o contato com o esporte após a aposentadoria.

IMPORTANTE

Equilíbrio. Atletas ou não, uma dica importante dada por todos os nutricionistas é a reeducação alimentar. Os profissionais ouvidos pela reportagem recomendam evitar dietas muito restritivas, que surgem a cada dia. Procurar ajuda de um profissional é fundamental.

Carboidratos. A presença dos carboidratos nas refeições, principalmente dos atletas profissionais ou não, é necessária. Eles são fonte de energia que o organismo vai utilizar na hora do treinamento.

Flexibilidade. Moderação é a palavra-chave. Grande parte dos nutricionistas recomenda comer de tudo, mas sem exagerar nas quantidades. Se você exagerou em um dia, aumente o controle um pouco mais nos dias seguintes.

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